Por que eu vou pra Marcha - Clara Campelo

sexta-feira, 17 de junho de 2011 - Postado por Kaline Rossi às 08:05

Tenho hesitado em publicar um texto. Tenho escrito algumas vezes, mas a frustração que me toma ao meio do desenvolvimento é tão maior que minha esperança sobre as coisas, que acabo abandonando a idéia de publicar alguma opinião. Eis que hoje me surgiu, como uma necessidade vital, a vontade de escrever baseada em uma idéia muito interessante que tem sido difundida pela internet na divulgação de uma marcha em favor de causas sociais de liberdade de expressão e direitos humanos, que conjuga em um movimento, diversos motivos para os cidadãos acreanos marcharem juntos, como em um protesto que prova sua consciência identitária, da memória, das diversidades, da biodiversidade.

Na verdade, o debate da pós-modernidade e do multiculturalismo do fim do século XIX tem sido um dos meus objetos de estudos autodiáticos, na busca por um quer que seja que me consiga estabilizar a sensação de que os direitos estão para todos, sejam para as classes marginalizadas –negros, mulheres, índios, homossexuais- ou não. Logicamente, sempre será problemático abordar temas tão complexos, quando um país tão miscigenado ainda busca modelos europeus como se sua independência fosse um papel em branco e suas mentes fossem assim repletas de vaguetudes de aceitação ao diferente.

Mas o que é o diferente, o diverso, o estranho, o excêntrico? Qualquer desses termos acaba por traduzir algo em nós, que não seremos nunca lineares, simétricos, idênticos, “perfeitos” segundo os padrões da sociedade ou mesmo “normais”. Somos todos de alguma forma híbridos, somos todos mutáveis, cheios de complexos, cheios de distinções, cheios de coisas inatas nos seres humanos e que querendo ou não, sempre foram alvos de injúrias, repressão, aviltamento, espoliações... E falo aqui de momentos históricos, como a morte de mulheres, o genocídio sobre os índios, a escravidão de negros, os preconceitos com os homossexuais e as classes supracitadas.

Eu falo de identidades, personalidades, vidas reais que sofrem por uma memória esfacelada, uma memória fraturada, cheia de desfalques, de traumas.

Na verdade, as Identidades, sejam de um povo ou de um indivíduo único, sempre serão mutáveis. Toda a nossa identidade é forjada pela escola, pela formação religiosa e pela política vigente. Mas eu vou além ao pensar a identidade cultural do país de mais diversa formação histórica: o Brasil.

O que devemos achar de essencial para a nossa identidade se todos somos tão distintos, em especial de uma a outra região do país? Ora, carregamos a mesma língua –e o que será uma língua senão aquilo que une seu povo em uma só identidade?-, histórias diversas, mas com relações inegáveis quando se tratando de uma luta pela pátria amada e afinal, espalhados por todo esse extenso território verde e amarelo, somos brasileiros, filhos e netos de indivíduos híbridos, que querendo ou não, tiveram algum resquício no sangue, de um povo já esquecido: os primeiros moradores desse chão, que hoje quer negar as origens e se debruça em incansáveis imitações internacionais –com sua sensação aparentemente interminável de povo colonizado que deve algo a sabe-se lá quem...

Na minha condição de jovem e mulher que idealiza um mundo sem preconceitos, eu me encontro em litígio sobre um país que se mostra, sobretudo, despreocupado com a educação de seu povo e como é já sabido, alcança índices de escolaridade por meios que facilitam a formação de indivíduos não aptos ao título da escolarização. São números apenas. Números que significam uma massificação da educação de má qualidade. E sobre isso também, como não protestar?

Estou prestes a me formar em letras vernáculas, curso lindo, que me tem expandido o conhecimento de forma indizível, mas que infelizmente desde já me tem aberto os olhos para os problemas imensuráveis sobre os quais me irei deparar se realmente quiser atuar no campo da docência. Salários injustos, trabalho árduo, violência dentro das escolas, dentre outros aspectos ainda mais complexos que nem sequer preciso falar, pois assim não findaria o meu texto.


Então, para não muito estender, porque mesmo marchar e para onde?
Se a Utopia para Thomas Morus (o criador dessa palavra), era uma civilização ideal, um país imaginário em que tudo estaria organizado de uma forma superior; e se para muitos historiadores a Utopia criada por ele, muitos séculos atrás, é hoje reconhecida como a descrição do Brasil; façamos do que chama o dicionário de “fantasia” ou “plano que parece irrealizável”, o nosso pressuposto básico na busca de uma expressão em conjunto para um país melhor, mais livre, mais democrático.

Eu marcho pela qualidade da educação, grito pelas florestas, pelos índios, pelas mulheres, pelos negros, pelos homossexuais, artistas de rua, pela ARTE! Pelo reconhecimento de um país cheio de diversidades! Pela identidade desse país, pela melhoria de salários, pela valorização dos profissionais docentes, que tanto teriam a ajudar dentro desse projeto de conscientização cultural, sexual e ambiental; eu marcho pela liberdade de poder usar a roupa que eu quiser sem ser julgada, eu marcho pela sociedade menos preconceituosa com as pessoas obesas, eu marcho pela VIDA!


Do blog http://zebratrash.blogspot.com/2011/06/pela-liberdade-de-expressao-e-direitos.html?spref=tw